segunda-feira, 6 de abril de 2015

Comentários sobre as leituras

Anotações e Comentários sobre o texto "John Dewey" (Brubacher, G. XIII John Dewey. In: Château. J. (org.). Os grandes pedagogistas. São Paulo: Editora Nacional, 1978):


O texto é dividido em oito partes ( "A escola tradicional", "A escola Dewey", "Fonte da teoria", "Orientação filosófica geral", "Fins da educação", "Programa", "Método de ensino" e "Teoria social da educação"). Não é um texto escrito por Dewey, mas sobre ele, que resume suas principais ideias, contextualiza-as e as discute, sem, no entanto, apresentar críticas a ela.

O artigo parte, inicialmente, do momento da vida de Dewey em que ele é convidado para dirigir a seção de filosofia e psicologia, que incluía a cadeira de pedagogia, na Universidade de Chicago, e chega à conclusão de que "os métodos das escolas elementares não estavam de acordo com as melhores concepções psicológicas" da época. E, nessa Universidade, pode, então, realizar a sua escola experimental, a escola-laboratório ou "escola Dewey", que seria inspirada nas melhores teorias psicológicas de seu tempo, combinadas com "os princípios morais básicos das atividades cooperativas na escola". A "escola Dewey" não foi pensada como uma escola modelo, mas sim como uma escola que daria à filosofia e à psicologia o mesmo caráter científico das ciências físicas, e, por isso, a ideia de laboratório.

Dewey se opôs à escola tradicional, pois, para ele, o objetivo central dela era "a preparação para uma vida adulta". O foco, segundo ele, estava no futuro, em se preparar para algo que ainda ia acontecer, sem se importar em viver plenamente o presente. O autor, então, se coloca contra a ideia básica que sustentava as teorias educacionais da época, como a de Aristóteles, que via a educação como um "desenvolvimento", uma "atualização das potencialidades latentes na criança", tendo assim um fim e podendo se completar em algum momento, em que se chegasse à "perfeição". Para a escola tradicional, esse desenvolvimento ou atualização das capacidades das crianças se dava por meio de exercícios de faculdades como a da memória, a da vontade, a da imaginação, e as matérias do programa eram escolhidas em função de seu valor disciplinar, e não por seu valor prático, sua utilidade na vida. Para Dewey, esse método de instrução era autoritário, de um professor "ditador", de uma aula centrada, portanto, nesse mestre e caracterizava o caráter social da escola em sua época.

Diferentemente dessa escola tradicional, a "Escola Dewey" apresenta outras características. O objetivo da educação para ele era  o de ajudar a criança a resolver os problemas gerados pelo contato dela com o meio físico, com o meio social, partindo, sempre, das capacidades e tendências já presentes nela. Dewey pensava o programa escolar como um instrumento que ajudaria "a criança a realizar todos os projetos que ela, criança, pudesse haver formulado com o fim de controlar o resultado de suas atividades presentes" e fazia com que, nesse programa, fossem incluídas as necessidades básicas da criança, como a nutrição, o abrigo e o vestuário. Dewey defendeu que "nenhuma instrução poderia ter êxito separando o saber e o fazer". A ideia era a de aproximar a educação, o que se ensinava na escola, da vida da criança, para que ela visse no programa um instrumento para resolver as coisas de seu dia a dia, e, assim, tivesse interesse por aprendê-lo, uma vez que ele lhe seria útil, necessário. A "escola Dewey" se baseava e, ao mesmo tempo, apresentava o novo espírito social que surgia naquele momento, em que a ideia de uma comunidade oficiosa, com divisão de trabalho, de cooperação mútua, de trabalhar de maneira positiva pela comunidade estava aflorando. 

A ordem e a disciplina, para  Dewey, não deveria, assim, ser imposta por um mestre, mas ser algo natural, que partiria do próprio respeito da criança pelo trabalho que fazia, e, por isso, as atividades deveriam motivá-las, causar interesse. As atividades eram projetos a serem desenvolvidos. Não há, para Dewey, portanto, uma oposição entre interesse e esforço. Para ele, quanto maior o interesse, maior será o esforço. E, também, não há oposição entre interesse e disciplina. O interesse é a garantia, segundo ele, de um "crescimento em autonomia moral".

A "escola Dewey", que não durou nem uma década, recebeu a influência de três fatores  sócio-políticos da época: (i) a noção de democracia no momento em que o autor escreve "Democracia e educação", nos Estados Unidos; (ii) a revolução industrial, e (iii) a ciência moderna (as ciências cognitivas, por exemplo), que influenciou o método científico que caracteriza seu método de ensino, e é a base de seu pragmatismo. 

Do ponto de vista filosófico, a obra de Dewey recebeu forte influências das discussões em torno da "experiência". Para Dewey, a experiência pode ser entendida em duas partes. Uma parte consiste em "ensaiar" - "uma pessoa tenta fazer uma coisa, e essa tentativa altera as consequências; tem consequências", a outra parte é o "provar", o experimentar em si. A experiência, para ele, é, portanto, "ação e prova" e é "a chave para compreender a natureza da realidade"; a prova é o conhecimento. 

Seu método experimental dependia, assim, do fazer e do provar. Para isso, formula-se, primeiramente, hipóteses para solucionar um problema, e, depois, experimenta-se essa hipótese para ver o que acontece. Se os resultados estiverem de acordo com as previsões, a hipótese continua em pé, é verdadeira e válida, nesse contexto experimental. Mas, se não estiver de acordo, não tem problema, se refazem as hipóteses, muda-se a experiência. A experiência, para Dewey, não conduz a verdades absolutas, definitivas. Para ele, "experimentar ou empreender uma ação é, sempre, invasão do futuro" e, por isso, sujeita à incertezas, às contingências. As experiências não são definitivas, são sempre reconstruídas. Para Dewey, a educação, então, precisaria prever as consequências de uma atividade, mas ser flexível, poder sempre "rever seu plano de ação original".

Com sua proposta educacional, Dewey revê, também, o papel do mestre na sala de aula. O professor não poderia impor aos alunos os fins educacionais, privando-o do exercício de previsão e de inteligência, ao comandar sua atividade, e tornando esses fins inflexíveis. Para Dewey, "se os fins educacionais tirarem sua origem das atividades reais da vida, serão tão numerosos e variados quanto a própria vida", e, aí, não parece plausível apresentar esses fins como algo fechado, já estabelecido. 

Dewey não vai negar por completo um programa de ensino, mas ele se mostra contrário a um programa inflexível, e que enxergue a criança como um pequeno adulto. Uma das analogias que Dewey combatia era a de Froebel, que chamou sua escola de "jardim da infância", ao comparar a educação ao crescimento das plantas, o que supõe um caráter completo do desenvolvimento e que é possível alcançar uma perfeição, um estado final das coisas, o ponto final do desenvolvimento. Para Dewey, o desenvolvimento é dinâmico, não estável, estático, "a experiência educacional é, pois, constante reconstrução do que a criança faz, à luz das experiências que faz". Isso caracteriza o que veio a ser chamado de "educação progressiva".

O programa educacional ideal para Dewey, portanto, era um programa de experiência, que envolveria o fazer e o provar. Com isso, ele também distingue conhecimento de informação. Dewey acreditava que os programas tradicionais levavam a um acúmulo de informações que não eram transformadas em conhecimento. Para ele, "o primeiro sinal de um bom programa (...) é que está em relação com as preocupações da experiência pessoal da criança, da qual tira a fonte. O segundo sinal é que, agindo sob esse programa, a criança chega a uma visão mais clara no interior de sua experiência". O importante, para Dewey, era a eficiência pragmática do que se ensinava na escola.

O método de ensino de Dewey é conhecido, também, como "método do problema" (estabelecido com mais detalhes na obra dele "How we think"). Esse método pode ser compreendido em cinco pontos, cinco fases: (i) considerar a experiência atual da criança; (ii) interrupção na continuidade da atividade atual - apresentação dos obstáculos e dos problemas; (iii) levantar dados para encontrar uma maneira de solucionar os problemas e, para isso, mestre e crianças deverão apelar para experiências passadas, outros conhecimentos; (iv) formulação de hipóteses, para dar continuidade à atividade, e (v) submeter as hipóteses à prova da experiência. Ao contrário do que pensava o educador Herbart, Dewey não entende a prática como uma repetição para se fixar algum conteúdo, mas sim, como uma prova da verdade, ou do valor da reflexão feita pelo aluno para resolver um  problema em um dado momento. Para Dewey, o conhecimento virá dessa prática, pois, para ele, era insuficiente a atividade puramente intelectual; o pensamento não está só dentro da cabeça, mas está na ação sobre as coisas.

Por fim, o texto discute, na última seção, a ideia da escola democrática de Dewey: a escola que ensinaria as crianças a agir, em suas comunidades, partilhando experiências, e reconstruindo, assim, a ordem social. Para Dewey, só a educação poderia efetuar modificações políticas e sociais.